sexta-feira, 29 de novembro de 2013

As cartas que eu não mando

Papel. Caneta. Cá estou eu contando mais uma história. Mais um dia. Choveu e eu pensei em mudar o cabelo. Ah, e eu pintei a parede do quarto, lembra que eu sempre quis e nunca tive coragem?

Mais uma pro monte de cartas, escritas e nunca entregues. O dizível e o indizível em pilhas e pilhas de papel.

Comprei um cachorro. Mudei de emprego. Tanta coisa para contar... Mas para quem? Poderia escolher um remetente para cada carta e ainda assim não teria contado exatamente o que gostaria para cada. Talvez cada trecho para uma pessoa. Lembra do professor de história? E os filhos como vão? Sinto sua falta.

Enquanto a tinta mancha o papel, a vida se desmancha em palavras. E há cartas para mim mesmo. Para o passado e para o futuro. Para o nada e para o tampouco. Palavras se desfazem em memórias e se fazem em histórias, perdidas no tempo e no espaço.

Uma música no rádio... Ouvi sua música preferida ontem, lembrei de você. Quanto tempo. Tempo. O curandeiro das incuráveis marcas que os ventos deixam na face, das incontáveis horas já vividas um dia.

Queria te ver ("eu também" seria a resposta?). Quantos ditos e não ditos perdidos nas linhas de cada folha. Você ainda lembra de mim? O sorriso que marcou tantos trechos engraçados. Lembra quando você caiu de bicicleta? As lágrimas que assinam as saudades...

Eu contei, mas ninguém leu.

OBS: Título e texto inspirados no queridíssimo Leoni