sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Claustrofobia

(14h00)
- Por aqui, senhora.

Sério moça? Senhora? Eu devo ter uns bons anos a menos que você... Bom, não tenho rugas como as suas, pelo menos. Senhorita seria mais aceitável, no mínimo.

- Boa tarde. - diz o médico, exibindo um sorriso.
Boa tarde para quem mesmo? - Boa tarde.
- Sou eu quem vou realizar seu exame, pode me seguir.
Tá, ok, é você quem vai apertar o botão e iniciar a tortura... Entendo. - Ah sim, claro.

- Você pode se deitar aqui, por favor? - a assistente.
- Sim.
- Encaixe seu corpo nesse suporte e tente não se mexer por favor.
- Hmm... Ok.
- Se você se mexer, teremos que realizar outro exame.
Táááááá, entendi moça, entendi, entendi... Muda, estática, P A R A D A! - Ok.
- Nós vamos colocar um pesinho para você lembrar que não pode mexer o braço, ok? - com um risinho (que era pra ser) engraçado, colocando o peso em questão.
Puta que pariu! Pesinho? Você tem coragem de chamar isso de PESINHO? Isso tem o que? Uns 8kg? - Rs, ok.
- Na outra mão vou colocar a campainha, aperte se precisar de algo.
- Com certeza precisarei.
- O exame é rapidinho, deve durar de 15 a 20 minutos.
Rapidinho? Vamos rever o conceito de rápido: o que é rápido acontece em, no máximo, 5 minutos, para alguns em 10 (o que eu já acho um absurdo). Rapidinho deveria ser, no máááximo, 2 e olhe lá. Em 20 minutos, rumos de uma nação podem mudar, uma pessoa pode morrer esgotada, uma bactéria pode se proliferar infinitamente... Então, não é "rapidinho".

Ouço o som da prancha deslizando para dentro do tubo. Que inicie a tortura, só faltam anunciar. Branco. Gelo. Estimo que tenha um metro de diâmetro, que parece meio centímetro. Ainda existe ar... Ainda. Primeira respiração. Adeus oxigênio. Primeiro disparo de coração. Mantenha a calma, repreendo. O som ensurdecedor. Fecho os olhos... Respiração, ok. Coração, ok. Lá vamos nós.

Abro os olhos. Branco. Gelo. Meio centímetro de diâmetro. Cadêoar? Cadêomalditoar? Não, coração, você não. Campainha. Não, não posso apertar. Peso. Não, não posso mexer. Fecha os olhos... Fecha os olhos, AGORA! Respiração, ok. Coração, ok.

Alguém abre a porta. Silêncio. Enfim, acabou. Barulho. Ah, não, que que eu fiz de errado? Eu não me mexi, juro. 

Saem da sala.

Calma, enfim calma. Como eu sairia daqui? Simples, era só... Mas... Mas... E se eu tivesse um ataque de pânico? Eu sou muito grande, não dá pra sair, não dá, não dá, NÃO DÁ! Falta ar. Falta muito ar. O médico disse pra não respirar forte, pode atrapalhar o exame. CADÊOMALDITOAR???

Abrem a porta, parte 2. Mãe, já chegou? B A R U L H O. Ah, não, não... Concentra. Respiração, ok. Coração, ok. Conversas na sala. É piada isso né? Vocês não estão conversando aqui e tirando a única concentração que eu preciso para respir... Não, coração, você também não. Saiam, saiam da sala malditos, SUMAM! 

Fecha a porta.

Como eu sairia daqui? ATAQUE DE PÂNICO! Esquece, eu nunca sairia. Por que eu entrei mesmo? Inspira, Expira... 

Barulho: ensurdecedor. Peso: cara, que dor no braço. Campainha: não sinto minha mão de tão forte que eu seguro. Não se mexa.

Porta. Merda, o que vocês querem agora? Silêncio. 

Si-lên-cio.

- Prontinho.
Prontinho? Qual o problema de vocês com essa porra de diminutivo? Aleluia, eu diria. ALELUIA! Eu sobrevivi, vamos fazer uma festa! Prontinho? Tá de sacanagem. Passei 2 horas sem respirar, porque vocês mentiram que era 20 minutos. MENTIRAM. Sai, não encosta, não rela, nunca mais quero te ver... - Obrigada, o exame fica pronto quando mesmo?
- Semana que vem.

(14h20)
- Ufa, acabou, vamos embora?