domingo, 31 de março de 2013

Opção frieza

Acorda de manhã, abre a janela e sente o frio. Olha para fora: calor. De onde vem toda essa frieza? De si mesmo.

Uma opção. Uma decisão. Ela fecha os olhos e é transportada para o passado. Por que eu me tornei assim? Logo se lembra... Talvez não fosse - é verdade - a melhor solução, mas funcionava. Funcionava bloquear os sentimentos, afastar as pessoas. Funcionava superar vontades e esquecer desejos. Funcionava fechar-se.

Socialmente, ainda era a mesma, os mesmos amigos, os mesmos vínculos. Ainda era amável, mas, sentimentalmente, já não amava mais. Na luta entre razão e emoção, descobriu-se que amar não é suficiente se não houver um conjunto de conspirações que realize o amor. Entre querer e poder existe um abismo, até em amores correspondidos. Vitória da razão.

Trancou a porta. Jogou a chave fora. Tinha a esperança de um dia alguém destrancar, descongelar as emoções guardadas... Descobriu que talvez fosse mais fácil continuar assim.

Besteiras


e nessa história de falar besteiras
fala-se muito
entende-se nada
ama-se pouco.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Tédio

- Será que vai chover?
- Não sei...
- Parece.
- É... Por que a gente é assim?
- Assim como?
- Assim... Entediante.
- Entediante?
- É, entediante! Não falo de só de você ou de mim, falo de todo mundo.
- Nem todo mundo é assim...
- Não. Todo mundo é entediante, sem exceções.
- Mas como exatamente?
- É simples: todo mundo um dia se torna repetitivo, cansativo, fala as mesmas coisas, reflete os mesmos fatos, ouve as mesmas músicas... Até mesmo quem é surpreendente, se torna entediante por querer ser sempre surpreendente. Acho que é isso que torna as relações humanas cada vez mais superficiais e chatas.
- Ah...
- Que foi?
- Deixa pra lá.
- Para com isso... Diga, que foi?
- É que... Bom... Eu... Surpresa!
- Que lindo! Tá vendo? É por isso que eu te amo... Até no seu tédio você me faz sorrir.
- Vem cá.

domingo, 17 de março de 2013

Antes de dormir

Me olhei no espelho. Os olhos já não eram mais os mesmos. O rosto tinha marcas do tempo. A expressão denunciava o pensamento.

Apaguei a luz. No escuro tudo é mais fácil. Nele, não se via presente ou passado, não se enxergava os traços impiedosos já calejados.

Fechei os olhos. Liguei a mente. Lembranças, imagens e situações. Tudo como um filme, passado lentamente na ordem e forma que eu quisesse ou imaginasse. No escuro silencioso do pensamento gritante, tudo é mais bonito. Não há mudança provocada pelo tempo que altere as lembranças boas. Imagens e retratos são imutáveis... E mais amáveis.

Aos poucos a consciência se desfazia. Os sons, cores e pensamentos iam ficando cada vez mais distantes. A respiração se tornava regular. Desliguei meu corpo.

Acordo. Os olhos estão marejados. Não existe resquício de devaneios noturnos. Algo subconsciente me fez chorar... E talvez eu nunca descubra o que ou o porquê.