segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Conspiração

Você levanta
Desliga o cérebro,
Sorri e segue.

Abre os olhos: uma imagem.
Memória ativada.
Na cabeça uma lembrança
Uma saudade apertada

Desliga os olhos.

Abre os ouvidos: uma palavra.
Memória ativada.
Na cabeça outra lembrança
Uma conversa atrasada

Desliga os ouvidos.

Abre a cabeça: um passado.
Memória ativada.
E a tentativa, inútil,
De não pensar em nada

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

As cartas que eu não mando

Papel. Caneta. Cá estou eu contando mais uma história. Mais um dia. Choveu e eu pensei em mudar o cabelo. Ah, e eu pintei a parede do quarto, lembra que eu sempre quis e nunca tive coragem?

Mais uma pro monte de cartas, escritas e nunca entregues. O dizível e o indizível em pilhas e pilhas de papel.

Comprei um cachorro. Mudei de emprego. Tanta coisa para contar... Mas para quem? Poderia escolher um remetente para cada carta e ainda assim não teria contado exatamente o que gostaria para cada. Talvez cada trecho para uma pessoa. Lembra do professor de história? E os filhos como vão? Sinto sua falta.

Enquanto a tinta mancha o papel, a vida se desmancha em palavras. E há cartas para mim mesmo. Para o passado e para o futuro. Para o nada e para o tampouco. Palavras se desfazem em memórias e se fazem em histórias, perdidas no tempo e no espaço.

Uma música no rádio... Ouvi sua música preferida ontem, lembrei de você. Quanto tempo. Tempo. O curandeiro das incuráveis marcas que os ventos deixam na face, das incontáveis horas já vividas um dia.

Queria te ver ("eu também" seria a resposta?). Quantos ditos e não ditos perdidos nas linhas de cada folha. Você ainda lembra de mim? O sorriso que marcou tantos trechos engraçados. Lembra quando você caiu de bicicleta? As lágrimas que assinam as saudades...

Eu contei, mas ninguém leu.

OBS: Título e texto inspirados no queridíssimo Leoni


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Amores lunares

quando me apaixonei
pela lua
vi que cada amor
era novo


e, feito de fases,
ora crescia,
ora minguava,


mas sempre cheio
de cores


e histórias para contar.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Tempestade emocional

Vira de um lado para o outro. Sua frio. A ira expressa no sonho. A raiva consciente despejada no inconsciente. Pesadelo.

Despertador. Susto. "Bom dia senhor, é hora do café".

Sono, o real sinônimo de mau humor. Bom dia pra quem? Café. Alívio. Recupera-se do sonho. Bom dia, dia.

O sol nasce, com ele a calma é retomada. Modo automático: ativado. Rotina. O mesmo emprego, a mesma gravata apertada, o mesmo aperto no peito. Hábito. O velho bom humor aparente, estampado no sorriso amarelo manchado de cigarro.

Fim de tarde. "Sim, eu vou no happy hoje". "É, eu sei que eu sempre falto, mas hoje eu vou". Um ano longe e nada mudou... Os mesmos papos, as mesmas piadas, a mesma cerveja preferida. "É Zé, eu vi que meu time perdeu ontem". Risos. Cerveja, o cérebro congela. Por-do-sol, o coração congela. Adeus.

A melhor hora do dia, como já diria Brás Cubas: tirar os sapatos apertados. Liberdade. Os dedos tão libertos quanto a garganta, já sem gravata. Desliga a mente, desfaz o nó do peito. Felicidade instantânea.

Anoitece.

Outro dia cansativo debruçado sobre a cama desarrumada. Os olhos fecham. Silêncio. O tempo fecha. A mente relampeja. Lá vem ele, correndo, sem piedade. O vento forte bagunça os pensamentos. Terror noturno. Tempestade... emocional.

Vira de um lado para o outro...


OBS: A música que eu origem ao título e vida ao texto.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Sensações clássicas

No momento em que a noite me sorriu, o dia se pôs lindamente. A lua saltitava de felicidade. E eu sorria de volta. Uma trilha sonora para escrever: Beethoven. Sim, música clássica. Seus altos e baixos combinavam tanto com meu lapso de inspiração.

Aquela boa inspiração de querer escrever o nada. E relatar o vazio. Um estado de felicidade com uma música triste. O dúbio sentimento de chegar e partir.

Beethoven.

Lentidão. Silêncio. Piano. Fecho os olhos. Preto e branco. Todas as dores, as saudades, os nós do peito. Voo baixo, com as asas amarradas de solidão. A sensação de não saber onde está ou o que procura. A alma trancafiada no corpo.

Beethoven.

Crescente... Orquestra! A mente se abre. Uma explosão de ideias e sensações. As paisagens se colorem e os pássaros cantam. Voar, enfim, voar. A liberdade de ser o irreal do inconsciente. A alma solta no mundo do sonho.

Aplausos.

Olhos abertos. A realidade diante de si. Realidade? Transtornos musicais da mente... Já não se sabe mais distinguir o que ouviu do que viveu.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cefaleia


quando a luz te cega,
o breu é o conforto
de um som que não se cala.

martela, lateja... lateja, martela...

uma dose de solução.
um frasco.
um silêncio ensurdecedor

que ensurdece
a
dor.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O que eu não escrevi

Outra noite. Papel, caneta e... Eu? Não tenho certeza se sou eu realmente quem escrevo, já que, por muitas vezes, não escrevo o que penso e, por tantas, não penso no que escrevo.

Penso naquilo que não escrevi e tudo que deixei passar. Lapsos noturnos. Pensamentos vagos. Saudades reprimidas. Vontades. Desejos. Raiva... De ideias complexas ao por-do-sol. Todas as vezes que a caneta cedeu e o papel ficou em branco.

Penso em falar sobre o não dito. E talvez o não pensado. Quero a tinta que se perdeu nas entrelinhas do tempo e o papel que se foi com o vento. Mas não tem volta. Não tem volta porque o escrito de hoje não é o mesmo de ontem. E o escrito de amanhã não será o mesmo de hoje. A mesma frase tem diferentes sentidos em dias distintos.

O por-do-sol, aquele que eu tanto admiro, não é o mesmo no dia de chuva. O sorriso, de final de beijo, não é o mesmo quando para a pessoa errada. O olhar, sincero, não é o mesmo atrás do óculos escuro. E as palavras nunca serão as mesmas quando silenciadas.

Releio. Disse, não disse e disse o não dito. O que não era para ser dito, embora nunca pensado. O avesso das palavras. O pensamento do nada, o sentimento do tudo. O silêncio que grita. A alma que fala.

Antes dito... Que silenciado.

domingo, 16 de junho de 2013

Pule se for capaz

Atenção corpo de bombeiros...

Não sei por que eles insistem nessa palhaçada... Está decidido, eu vou pular.

Senhor, o senhor precisa descer dai...

Vocês sabem o motivo de eu estar aqui? Eles não entendem... Eles não entendem... Calem-se! Desde quando minha vida interessa a vocês?

Senhor...

Calem-se! Vocês não ouviram? Calem-se! Ah, não... Não ouvem, nunca ouviram, não vai ser agora...

Pense na sua família, olhe, quantas pessoas querem que você fique vivo.

Rá rá! Vocês me deprimem... Projetam seus próprios desejos em mim. No fundo, todos vocês queriam pular, ser livres e fazer o que bem entendem. No fundo, vocês queriam que eles se importassem... Que todos se preocupassem com o fato de eu estar aqui... Isso daria sentido ao trabalho de vocês... Mas não, ninguém se importa.

Podemos conseguir ajuda para o senhor.

Podem? Mesmo? Podem refazer meus laços rompidos, minhas emoções destruídas, meus sonhos quebrados, minhas decepções... Ah, não, só vão me oferecer uns remédios, não é mesmo? Afinal, eu sou o louco da história.

Afinal, por que você está aqui?

Incertezas, digamos... Sabem o que é isso? Creio que não, já que as pessoas lhes dizem o certo e vocês o fazem sem pensar, não é? De repente eu cansei disso... E, quando resolvi pensar por minha própria cabeça, descobri que não é simples como vocês pensam. Pessoas sentem, sofrem e morrem (sim, morrem) todos os dias... Muitas por mero acaso, outras por vontade própria.

Mas senhor...

Sim, eu sei, é egoísmo! E talvez alguém realmente sinta minha falta... Não aconselho minha decisão para ninguém, só defendo a liberdade de escolha e poder sobre nós mesmos. A humanidade deve dar um passo a frente, nem que isso implique em...

Não! Senhor! Não!

Atenção corpo de bombeiros...


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Sabe?

Acho que vi. Em alguma rua. Se não era, há de ser parecido. Disseram-me que não havia nada. Mas acho que vi... Não, eu vi sim. Vi quando passou, correu e se escondeu em algum lugar, onde não sei.
Só sei que era lindo. Era estranho, como é para ser, só que lindo. Tinha traços de loucura também, porém... Quem nunca? Quem são os loucos que nunca foram insanos por um dia?
Na verdade, acho que, quando passou, também me viu. Eu senti. Me olhou nos olhos. Despertou algo diferente. Deve ser por isso que lhe chamam pelo nome... Aquele, sabe?
Passou e... Ficou. Silencioso. Meio bobo, meio tolo. Meio a meio. Levando metade, deixando metade. Sendo inteiro. Sentido por inteiro.

Deve ser por isso que lhe chamam pelo nome... Aquele, sabe?

domingo, 19 de maio de 2013

Sobre sentidos


Ainda que houvesse sentido
Não haveria sentido.
Porque o que se sente
Não tem direção,
Não diz para onde vai
Ou quando volta
Ou se volta.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Qual sua distância?

Qual a distância entre dois corpos? Cidades diferentes, caminhos opostos, obstáculos... Tudo que é físico separa dois corpos, duas pessoas. E parece que, pela lei natural da vida, seus rumos sempre se traçam de maneiras distintas, afastando-os, privando-os um do outro. Mas é físico e só.

Qual a distância entre duas almas? Brigas, orgulho, egoísmo... Tudo de bom que é deixado de lado, esquecido por uma basteira qualquer. Perde-se muito por tão pouco. Duas almas ficam longe mesmo quando dois corpos estão colados.

Mas quando se quer de verdade, não há distância ou ironia do destino que atrapalhe. Não tem desculpa. Não tem hora. Não tem lugar. Se é para ser liga, grita, esperneia, tudo para ficar junto.

Perto, longe, de lado, do avesso...


domingo, 7 de abril de 2013

Despedidas...

E outra vez dizia 'até logo', mas dessa vez não sabia o que queria levar consigo. Não sabia quando iria voltar ou se iria voltar. Não sabia o que levar na mala e o que jogar fora. Pensou em deixar coisas importantes, desistir. Pensou em levar tudo, lutar. Pensou que há muito já não pensava em nada que fizesse sentido. Saudade. Pensou que já não havia mais no que pensar. Talvez não tivesse mais solução. Talvez nem sequer existisse uma história.

Agora ela ia, de corpo e alma... Para, quem sabe, nunca mais voltar.

domingo, 31 de março de 2013

Opção frieza

Acorda de manhã, abre a janela e sente o frio. Olha para fora: calor. De onde vem toda essa frieza? De si mesmo.

Uma opção. Uma decisão. Ela fecha os olhos e é transportada para o passado. Por que eu me tornei assim? Logo se lembra... Talvez não fosse - é verdade - a melhor solução, mas funcionava. Funcionava bloquear os sentimentos, afastar as pessoas. Funcionava superar vontades e esquecer desejos. Funcionava fechar-se.

Socialmente, ainda era a mesma, os mesmos amigos, os mesmos vínculos. Ainda era amável, mas, sentimentalmente, já não amava mais. Na luta entre razão e emoção, descobriu-se que amar não é suficiente se não houver um conjunto de conspirações que realize o amor. Entre querer e poder existe um abismo, até em amores correspondidos. Vitória da razão.

Trancou a porta. Jogou a chave fora. Tinha a esperança de um dia alguém destrancar, descongelar as emoções guardadas... Descobriu que talvez fosse mais fácil continuar assim.

Besteiras


e nessa história de falar besteiras
fala-se muito
entende-se nada
ama-se pouco.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Tédio

- Será que vai chover?
- Não sei...
- Parece.
- É... Por que a gente é assim?
- Assim como?
- Assim... Entediante.
- Entediante?
- É, entediante! Não falo de só de você ou de mim, falo de todo mundo.
- Nem todo mundo é assim...
- Não. Todo mundo é entediante, sem exceções.
- Mas como exatamente?
- É simples: todo mundo um dia se torna repetitivo, cansativo, fala as mesmas coisas, reflete os mesmos fatos, ouve as mesmas músicas... Até mesmo quem é surpreendente, se torna entediante por querer ser sempre surpreendente. Acho que é isso que torna as relações humanas cada vez mais superficiais e chatas.
- Ah...
- Que foi?
- Deixa pra lá.
- Para com isso... Diga, que foi?
- É que... Bom... Eu... Surpresa!
- Que lindo! Tá vendo? É por isso que eu te amo... Até no seu tédio você me faz sorrir.
- Vem cá.

domingo, 17 de março de 2013

Antes de dormir

Me olhei no espelho. Os olhos já não eram mais os mesmos. O rosto tinha marcas do tempo. A expressão denunciava o pensamento.

Apaguei a luz. No escuro tudo é mais fácil. Nele, não se via presente ou passado, não se enxergava os traços impiedosos já calejados.

Fechei os olhos. Liguei a mente. Lembranças, imagens e situações. Tudo como um filme, passado lentamente na ordem e forma que eu quisesse ou imaginasse. No escuro silencioso do pensamento gritante, tudo é mais bonito. Não há mudança provocada pelo tempo que altere as lembranças boas. Imagens e retratos são imutáveis... E mais amáveis.

Aos poucos a consciência se desfazia. Os sons, cores e pensamentos iam ficando cada vez mais distantes. A respiração se tornava regular. Desliguei meu corpo.

Acordo. Os olhos estão marejados. Não existe resquício de devaneios noturnos. Algo subconsciente me fez chorar... E talvez eu nunca descubra o que ou o porquê.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Entre despedaços e desperdícios


E se despediram. Repartidos e remontados. Um com metade do outro. Uma parte que vai e outra que fica. Separados, mas eternamente juntos.

A história deles começava pelo fim. Talvez porque, no fundo, nunca tivesse havido um começo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O reflexo do invisível


Posso ser tudo,
Posso ser nada,
Posso não ser.

Pois se reflito como o breu
E absorvo a luz como um espelho
Sou um paradoxo simples,
Com a complexidade de uma ordem direta.

E, quando penso em tudo que sei,
Percebo que não sei
Nem ao certo quem eu sou.

Afinal...

Posso ser tudo,
Posso ser nada,
Mas escolhi não ser.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Enclausurado


Eu procurava algo para dizer, mas já não havia mais nada a ser dito. Encarei o papel. Ele tinha mais a dizer do que eu. Ele branco, eu pálida. Gélida. Muda. Calada pelas palavras que eu não disse. Cega pelo olhares que evitei. Surda pela voz que eu não quis ouvir.

Uma dose de whisky. Lavava a alma por dentro e emudecia ainda mais. A caneta... Não, ela também não tinha nada surpreendente a dizer. Talvez uma música ajudasse... Nada. O pensamento gritava em meio ao silêncio das palavras.

A solidão, antes inspiradora, agora era traiçoeira. Apunhalava a mente, como a caneta impaciente apunhalava o papel inocente. Um escritor impune. Preso no casulo de suas próprias ideias. Acorrentado pelos próprios pontos finais da sua vida - mais reticentes que nunca.

Outra dose de whisky. Esquentava o peito. Trazia lembranças. Agitava a mente. M-E-N-T-E. É, a mente... Mente. Até mesmo quando não quer mentir. Sabia que não escrever não significava não sentir, mas não me sentia digna de sentir algo quando não escrevia. Procurava palavras na tristeza ou na felicidade, mesmo quando inexistentes. Afinal, um escritor apático não produz.

Eu podia estar triste, mas não tinha motivos. Eu podia ser - por muitos motivos - feliz, mas não queria. No fundo, eu só queria escrever... Mas não conseguia.

O papel e eu. Brancos. Brandos. Vazios.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Procura-se um cardiologista


   “Cardiologia: Especialidade médica que se ocupa do diagnóstico e tratamento das doenças relacionadas ao coração.”    Foi assim que Laura encontrou a definição de cardiologia para seu trabalho escolar, onde deveriam pesquisar sobre uma área da medicina sorteada para eles. 
   Laura era uma menina de apenas 11 anos e estava na 4ª série. Pouco conhecia sobre o mundo, vivera sempre na cidade pequena, brincando, sorrindo como qualquer criança dessa idade. Na escola sempre fora exemplar. Em casa também. Era a filha que todo pai adoraria ter. 
   Após a pesquisa do trabalho e a discussão em sala de aula sobre ele, voltou para casa pensativa, matutando a ideia do que era a cardiologia. Teria ela entendido o significado correto para a função do cardiologista? 
   Chegou em casa e foi direto até a mãe, toda acanhada, perguntando: 
   - Mãe, você me leva nem cardiologista? 
   A mãe desesperou-se: como assim sua filha de 11 anos querendo ir no cardiologista? Do nada? 
   - Por que filha? Tá sentindo dor em algum lugar?
   - Sim mãe, no coração. Além disso, ele ainda dispara de vez em quando.
    
   Com todo esse susto, a mãe marcou um cardiologista no dia seguinte para sua filha, mas ele alegou que nada havia de errado, que deveria ser algum susto ou pancada, mas nada de mais. A mãe acalmou-se, mas Laura não. Insistia querer um cardiologista, porém não era bem aquele que poderia fazer algo para ela. 
    Passada uma semana, estava ela no recreio sentada, sozinha, quando entendeu do que precisava, olhou para Vitor, o menino baixinho e fofinho de sua classe, e entendeu tudo aquilo, toda a dor, todos os disparos quando estava com ele: apaixonara-se pela primeira vez. 
   Levantou. Escreveu um bilhete. Saiu correndo em sua direção. Beijou-o no rosto. Foi o beijo mais lindo e mais puro já visto. Mais romântico que os de filme, mais apaixonado que os de amantes eternos. Foi puro e sincero. Beijou-o e saiu correndo, a vergonha era maior que ela. 
   Vitor, sem entender nada, virou-se e viu Laura bem longe. Ao seu lado um bilhete dizia: “Você é o melhor cardiologista do MUNDO! ♥”


sábado, 9 de fevereiro de 2013

Mas chegou o carnaval...

- ... oi?
- Ah, pensei que não viesse.
- É, mas vim.
- Acabou aquele ódio do carnaval?
- Nunca foi ódio, só vejo de uma maneira diferente...
- Ah sim, você e suas concepções e teorias furadas.
- Mas vim, não vim?
- É, você tá aqui. E agora?
- Agora você vem aqui, a gente fica junto e você vai embora.
- Para de me tratar assim.
- É assim que as pessoas se tratam no carnaval...
- Nós não somos um amor de carnaval.
- Ah, não? Bom saber...
- Para, por favor!
- Você me chamou, eu vim só pra ficar com você, mas você sabe que isso não é mais possível, que não passa dessa noite.
- É, eu sei...
- Então para com o drama.
- Não é drama, é saudade.
- Saudade? Sei... 
- É sério.
- De quem eu era ou de quem eu sou agora?
- De quem você SEMPRE será.
- Eu queria acreditar... Mas... Desculpa.
- Se você duvida tanto, por que você veio?
- Só pra ver seu sorriso uma última vez...
- Vem cá.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A moça da varanda


          Um dia me disseram que há três coisas que não voltam atrás: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida. Quando ouvi isso, imediatamente me lembrei daquele casal e me lembrei de que era tarde demais para essa frase ser dita, pois ela já havia dito palavras que mudariam aquele romance e que nunca mais voltariam atrás.
          ‘Não sabia que ele vinha à festa, acabamos nos encontramos e, como sempre, rimos, papeamos, jogamos conversa fora e ele, mesmo acompanhado, não saiu do meu lado. Viemos até a varanda para conversar. A acompanhante não gostava nada daquilo. Nem eu. Eu me sentia mal com a situação, mas parecia que ele nem ligava e hoje parecia que eu também não, precisava por um ponto final na nossa história. Palavras saíram sem pensar da minha boca, frases que nunca imaginei dizer, eu disse naquele momento. Também não consegui parar de falar, para mim parecia certo, mas eu não sei. ’. Ela me disse.
          Eu nunca a havia visto, porém aquela cena na varanda me fez sentir tão próxima dela, precisava acolhê-la e, assim que ele saiu, fui lhe falar, disse que havia visto os dois conversando e perguntei se ela precisava de algo.
          - Eu estou aqui e, apesar de não me conhecer, posso lhe servir para algo. - disse-lhe com toda a calma do mundo.
          - Obrigada, mas não acho que seria conveniente falar da minha vida com estranhos.
          Pensei que ela realmente pudesse estar certa, então resolvi voltar, porém quando estava na porta, quase chegando ao salão de festas, ouvi:
          - Por favor, fique! – reparei que seus olhos estavam cheios de água.
          - Tudo bem eu fico. Se você quiser falar, fale. Se não quiser, faço de conta que nada aconteceu, que acabamos de nos conhecer. A propósito, prazer, Luísa!
          - Prazer! Se eu preciso conversar com alguém, que seja com você então, que pelo menos sabe do que se trata. E, se não se importa, não gostaria de dizer o meu nome, só gostaria que você guardasse em sua memória que uma mulher lhe disse que uma simples mudança em uma pequena palavra pode mudar uma grande história.
          Quando já éramos ‘amigas’, ela me contou tudo: que o havia conhecido de uma forma inusitada, na qual ele se tornou amigo dela para poder sair com sua melhor amiga, mas que, no fim, essa amizade se tornou um romance ‘sem pé, nem cabeça’ – de acordo com ela – entre eles.
          Ela me disse que eles ficaram por um tempo juntos, e que mesmo depois de terminado o romance se tornaram grandes amigos. Claro que, às vezes, acabavam não resistindo quando ficavam sozinhos.
          Era assim: conversavam quando se viam em alguma festa ou quando trombavam na rua, ficavam algum tempo sem se falar, então se ele se aproximava ela se afastava, se ela se aproximava ele se afastava. Tinham seus amigos em comum que ainda apoiavam o romance, mas ambos não queriam mais nada, ou talvez quisessem, já que quando estavam juntos era diferente – e ambos percebiam o quão diferente era.
          Enfim, ficamos muitas horas conversando, rimos, contamos nossas vidas e refletimos sobre aquele momento, quando duas pessoas, que nem se conheciam, trocaram palavras tão valiosas para a vida delas, e, principalmente, vimos como palavras podem aproximar ou afastar pessoas. Pensamos em nossos pais, nas palavras que lhes dissemos, se um ‘eu te amo’ no dia de Natal ou Ano Novo basta, ou se deveríamos abraçá-los e lhes dizer todos os dias que os amamos e que sentimos sua falta. Lembramos quantos amigos deixamos ir sem nem lhes dizer que eles significavam muito para a gente e que precisávamos deles. E claro, lembramos quantos amores deixamos passar por bobeira, por um ato ou palavra desnecessário.
          Quando pensávamos nos amores, ela começou a chorar e me disse que ele havia significado muito para ela, que ela não acreditava nas palavras que havia dito, mas já tinha passado, não tinha mais volta.
          Eu não sabia como confortá-la, não surgiam palavras em minha memória suficientes para amparar uma desilusão amorosa, procurava-as, pensava em frases feitas que fosse, mas nada, nada que vinha à minha cabeça era o certo para se dizer naquela hora. Pensei em dizer para não chorar, porém seria em vão. Pensei em fugir, correr e abandoná-la ali, sentada, sem resposta, sem ter com quem conversar, faltava coragem. Pensei que simplesmente não havia no que pensar, era só ouvir aquelas palavras certas de uma incerteza tão grande da vida daquela, que agora, se sentia uma pequena mulher.
          Passado um tempo, ela pediu para que eu fosse buscar-lhe água e, quando voltei, não estava mais lá, só havia um bilhete que dizia:
          ‘Obrigada por tudo, por ouvir, por sentir comigo um pouco do que eu sentia naquele momento, onde palavras mudaram minha história, fazendo-me perder um grande amor, mas também fazendo com que eu encontrasse, no silêncio de alguém que ouvia tristes palavras, uma grande e inesquecível amiga. Prefiro que você ainda não saiba o meu nome, para que um dia eu possa me encontrar com você em uma outra situação e possamos nos tornar grandes amigas “de verdade”, amigas com palavras boas para se dizer. Com amor, a moça da varanda. ’
          Faz dez anos que essa história aconteceu, não sei se a reencontrei ou não e sei que ela nunca me diria se isso tivesse acontecido. Hoje me vejo diante de um quadro com duas pessoas na varanda, conversando. Um quadro que eu comprei semanas depois do que havia se passado e que me lembra aquela mulher, que falava sobre as palavras, que falava sobre amizade e que foi, ainda que por uma noite, minha melhor amiga.
          Palavras… Nada mais que palavras… Muito mais que palavras… Eu lembro de tudo o que ela disse sobre as palavras. Palavras boas, palavras ruins, de amor, de amizade… Mas e aquelas palavras? O que eu diria sobre as palavras daquela mulher? Foram certas? Erradas? Talvez sejam certas porque elas desfizeram o que seria errado, pois talvez fosse errado eles ficarem juntos.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Sobre covardia e infelicidade


Um homem nunca poderá ser completamente feliz, pois se um dia encontrar a felicidade plena, perderá a razão de ser.
O sentido da vida de um ser humano está pautado em sua eterna busca pela felicidade. Se atingir seu objetivo, sua existência perde o sentido, logo, restam apenas duas soluções: a morte ou o retorno ao estado de infelicidade. O indivíduo está, portanto, condenado a ser infeliz.
Dentro da infelicidade constante existem momentos de catarse, que podem ser chamados de “estado de euforia”. Acontece quando se alcança temporariamente algum objetivo que nos causa satisfação. Então, quando se está supostamente feliz, não houve um encontro com a felicidade de fato, mas um momento satisfatório que proporciona êxtase ao homem.
Um dos elementos considerados essenciais pelo próprio ser humano para ser feliz é a estabilidade. Busca-se estabilidade financeira, emocional, social como meio de se obter felicidade/satisfação. Nesse sentido, toda e qualquer ação que desestabilize essa homeostase comportamental é vista como ameaçadora, gerando o medo da mudança, tornando o homem covarde.
Desse modo, a relação covardia-infelicidade é mútua, onde o medo de mudar é o motor do insucesso humano. A alteração do hábito tem como justificativa o “medo de dar errado” ou a comodidade do “deixar como está para não causar problemas”, o que não passa de uma máscara de pseudofelicidade estável fadada ao tédio, insatisfação e consequente infelicidade disfarçada.
Nesse ponto é que surge aquela sensação de “eu estou bem, mas falta algo”. E falta. Falta coragem para encarar a desestabilidade de ser feliz.
Sendo assim, o homem nunca será feliz, por ser covarde.

Um estranho de si mesmo

- Onde estou?
- Como assim? Não reconhece o lugar?
- Perai, quem é você?
- Vamos lá John… Pare com isso.
- John? Quem é John? Acho que houve algum engano.
- Não há engano nenhum.
- Oi amor, você já vem?
- Quem é ela?
- Sua mulher, não se lembra?
- Não lembro nem você, quanto mais lembrar que eu tinha mulher.
- Haha… Acontece. Sempre acontece.
- Posso saber o que é que tá acontecendo?
- John, pare de se preocupar. Viva.
- Primeiro: meu nome é Joe, por favor, me chame assim.
- Tá, como quiser, mas você é o John, aceite isso. A propósito, pare de piscar, não espere acordar porque você não está dormindo.
- Se não estou dormindo, que é que houve?
- Isso é você quem tem que descobrir… Agora vá, sua mulher está esperando.
- Não é simples assim, eu preciso de respostas não acha?
- Encontre-as sozinho, deixe de ser alguém que só repete respostas, passe a formulá-las com suas ideias.
- Tá, eu vou… Mas como ela chama?
- Tente lembrar-se, eu posso lhe falar nada.
- Mas e seu nome?
- Haha, você definitivamente não sabe nada mesmo, pobre coitado. Agora vá, ande logo.
- Eu vou, eu vou…
E ele nem sequer levantou, caiu. Desmaiou. Acordou no hospital. Ouviu uma voz no fundo: “Joe, Joe…”. Ficou feliz por ser de novo ele mesmo. Levantou-se e olhou no espelho, era muito mais John do que Joe. Já não sabia se era sonho ou realidade, nem ao menos sabia quem era. Pela primeira vez teve medo de fechar os olhos novamente…

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013