Encaro o teto branco do quarto, um quarto que não é meu, apenas estou nele. Na parede uma foto, também não é minha, mas olha eu ali de novo. Na mesa, uma pasta carrega meu nome, tão menos minha quanto os outros dois.
Não é meu.
Maldito pronome possessivo que nos faz acreditar que possuímos algo que não nos pertence. Não é meu quarto, não é meu carro, muito menos meu... amor. Por isso, passa, vende, troca ou muda. Acaba.
Nada é seu.
O que lhe pertence é intocável, invisível. Cada pessoa que passa por você, cada sorriso, cada sentimento, cada lágrima derramada, cada momento é mais seu que o último celular que você comprou. O que é seu beira a loucura ao possuir algo inexistente e viver a plenitude do nada, jogado num mar de memória.
O que temos é nosso.
Afinal, tempo se encarrega de levar as pessoas e cada uma delas se encarrega de levar uma parte de você. E deixar uma parte delas em você. Um mosaico de "eus". A composição de uma história de infinitos autores em uma única capa.
O eterno são lembranças. Construídas por muitos... Exclusivamente seu.