quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Enclausurado


Eu procurava algo para dizer, mas já não havia mais nada a ser dito. Encarei o papel. Ele tinha mais a dizer do que eu. Ele branco, eu pálida. Gélida. Muda. Calada pelas palavras que eu não disse. Cega pelo olhares que evitei. Surda pela voz que eu não quis ouvir.

Uma dose de whisky. Lavava a alma por dentro e emudecia ainda mais. A caneta... Não, ela também não tinha nada surpreendente a dizer. Talvez uma música ajudasse... Nada. O pensamento gritava em meio ao silêncio das palavras.

A solidão, antes inspiradora, agora era traiçoeira. Apunhalava a mente, como a caneta impaciente apunhalava o papel inocente. Um escritor impune. Preso no casulo de suas próprias ideias. Acorrentado pelos próprios pontos finais da sua vida - mais reticentes que nunca.

Outra dose de whisky. Esquentava o peito. Trazia lembranças. Agitava a mente. M-E-N-T-E. É, a mente... Mente. Até mesmo quando não quer mentir. Sabia que não escrever não significava não sentir, mas não me sentia digna de sentir algo quando não escrevia. Procurava palavras na tristeza ou na felicidade, mesmo quando inexistentes. Afinal, um escritor apático não produz.

Eu podia estar triste, mas não tinha motivos. Eu podia ser - por muitos motivos - feliz, mas não queria. No fundo, eu só queria escrever... Mas não conseguia.

O papel e eu. Brancos. Brandos. Vazios.

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